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quarta-feira, 31 de outubro de 2012

A Política - Aristóteles [parte 25 b]

Quanto ao tempo fixado por ele para a mudança, mudarão
simultaneamente as Constituições que não começaram juntas, como se
tivessem todas sido inauguradas um dia antes do solstício?
E por que essa República passaria a ter a forma lacedemônia, se a
maior parte das outras se transforma no Estado contrário e não no que se lhes
aproxima? Deve haver a mesma razão em toda mudança. Segundo ele, a forma
lacedemônia se transformará em oligarquia; a oligarquia, em democracia; a
democracia, em tirania, embora também se transformem no sentido contrário, a
saber, a democracia em oligarquia, mais até do que em monarquia.
Além disso, não fala da tirania e não diz se sofre ou não mutação, nem
por que causa, nem em que espécie de República. Deixa este ponto
indeterminado, como algo em que a exatidão não seja fácil. Segundo ele, a
mudança deveria retornar à primeira e melhor espécie, de tal forma que haveria
um circuito contínuo; mas a tirania algumas vezes dá lugar a outra tirania, como
em Sícion a de Míron sucedeu à de Clístenes; ou a uma oligarquia, como em
Cálcis, a de Antileo; ou uma democracia, como em Siracusa, a de Gelão; ou à
aristocracia, como a de Carilau na Lacedemônia, e também em Cartago.
A oligarquia passa a tirania, como se vê na Sicília em quase todas as
antigas oligarquias: as de Leonte transformaram-se na tirania de Panécio; em
Gela, na de Cleandro; em Reges, na de Anaxilau, o mesmo ocorrendo em vários
outros lugares.

A Política - Aristóteles [parte 25]

Aquele que, tentando discipliná-la, se gaba de torná-la virtuosa por meios
diferentes da filosofia, dos bons costumes e das boas leis, engana-se
redondamente. Assim agiram o legislador de Creta e o da Lacedemônia, que
limitaram a comunidade dos bens, um apenas aos fundos destinados à despesa
com as refeições públicas, outro ao uso familiar das posses de cada um.
Deve-se, aliás, atentar para a longa seqüência dos séculos e dos anos
anteriores ao nosso e persuadir-se de que as boas instituições não escaparam
à sagacidade dos que nos antecederam. Quase tudo foi imaginado, mas, dos
diversos projetos propostos, uns não foram aceitos, outros foram abandonados
após algumas tentativas.
Da mesma forma, basta submeter a uma tentativa a comunidade
socrática e se terá a prova de que ela é impraticável. Com efeito, jamais se
formará um Estado se não se começar por classificar os homens e partilhar os
bens, destinando alguns ao uso público e distribuindo o restante às cúrias e às
tribos particulares.

A Política - Aristóteles [parte 24 b]

Enfim, a comunidade de mulheres e de crianças produz necessariamente o
efeito contrário ao que se deve propor todo legislador, e que o próprio Sócrates
pretendeu. O maior bem que se possa fazer à sociedade política é preservá-la
de toda sedição e cultivar a benevolência mútua. A unidade tão recomendada
por Sócrates é, como ele diz, segundo Aristófanes, obra do amor ou da
amizade. Aqueles que se amam procuram unir-se de maneira a tornar-se um; é
preciso que desapareça um dos dois, ou ambos ao mesmo tempo. Ora, a
amizade, numa tão vasta comunidade, onde o pai não sabe qual é o seu filho
nem o filho quem é seu pai, não passa de uma gota de licor que se torna
insípida numa grande quantidade de água. O pai não mais se preocupa com o
filho, o filho desdenha seu pai, os irmãos são indiferentes um para com o outro;
pois sobretudo duas coisas despertam a solicitude e a afeição entre os homens:
um objeto digno de ser amado e sua propriedade, o que não pode existir com
semelhantes instituições.

A Política - Aristóteles - [parte 24]

Exame de Algumas Constituições
que Tiveram seu Reinado ou que
Foram Apenas Projetadas
pelos Filósofos

Sendo nossa intenção examinar qual seja a melhor das sociedades políticas
para os que podem levar o gênero de vida que melhor lhes convém, devemos
considerar rapidamente as Constituições dos Estados que passaram por ter
boas leis, assim como os projetos de alguns filósofos que se ocuparam deste
assunto. Veremos o que se pode aproveitar disso. Deve ser-nos permitido
também procurar algo de melhor, não para ostentar uma vã erudição, mas para
indicar o que pode haver para corrigir em cada um.
Exame das Duas Repúblicas de Platão
Comecemos pelo exame da questão que se apresenta em primeiro lugar
nesta discussão, a saber, se tudo deve ser comum entre os cidadãos ou se não
deve haver nada de comum, ou se algumas coisas devem sê-lo e não outras.
Nada haver em comum é impossível. O próprio Estado não é senão uma
espécie de comunidade, a que é necessário, em primeiro lugar, um local
comum. É esta unidade de lugar que faz com que todos pertençam igualmente a
uma mesma Cidade e os associa quanto ao território.

Linguagem como representação: uma breve aproximação hermenêutica


segunda-feira, 29 de outubro de 2012

A Política - Aristóteles [parte 23 b]

O Uso da Moderação
O outro método, inverso do primeiro, consiste, como dissemos, na
moderação. Concebe-se ela ao se considerar a maneira como se deprava a
monarquia. Assim como esta se arruína à medida que se torna mais tirânica, a
tirania firma-se ao se tornar mais régia, mantendo apenas a força necessária
para se fazer obedecer tanto pelos que querem bem ao tirano quanto pelos
outros, poder que não pode perder sem ele próprio se perder.
Isto posto, é preciso que o tirano faça, em parte, o que fazem os reis, e que,
quanto ao demais, salve as aparências simulando corretamente os sentimentos
e os modos de um bom príncipe.
Em primeiro lugar, que tenha o ar de se preocupar com o bem público;
que evite as despesas que ferem o povo, como a dilapidação das finanças;
que se abstenha de fazer, às custas dos pobres que têm tanta dificuldade
para economizar, grandes gastos, principalmente essas generosidades
escandalosas, como pensões para suas amantes e para os encarregados
de seus prazeres, para estrangeiros sem mérito, para artesãos de
corrupção e de imoralidade; que preste contas da percepção e do emprego
dos impostos, como alguns tiranos no passado. Por este meio, será tido por
econômico e fará com que se esqueça sua tirania. Sendo senhor do
Estado, não deve temer a falta de dinheiro. Mais vale para ele estar sem
dinheiro para suas campanhas do que deixar em casa tesouros empilhados;
com isto, ficarão menos tentados de abusar desse dinheiro os que, em sua
ausência, governarem o Estado, pessoas muito mais temíveis para ele do
que os meros cidadãos. Estes marcham com ele para o combate, enquanto
que aqueles ficam na retaguarda.

A Política - Aristóteles [parte 23]

Cometem-se grandes erros tanto num quanto noutro regime. Nas
democracias, trata-se de um erro dos demagogos tornar a massa senhora das
leis. Em vez de manter o Estado dividido em dois partidos como fazem, jogando
os pobres contra os ricos, sempre deveriam fingir que falam por eles. Nas
oligarquias, os oligarcas cometem o mesmo erro, ao se preocuparem demais
com o interesse dos ricos. Seu juramento é concebido nestes termos: "Serei
inimigo do povo e lhe farei todo o mal que puder." Deveriam, pelo contrário, jurar
estar sempre com o povo e jamais prejudicá-lo.
O mais importante meio para a conservação dos Estados, mas também o
mais negligenciado, é fazer combinarem a educação dos cidadãos e a
Constituição. Com efeito, de que servem as melhores leis e os mais estimáveis
decretos se não se acostumar os súditos a viverem segundo a forma de seu
governo? Assim, se a Constituição for popular, é preciso que sejam educados
popularmente; se for oligárquica, oligarquicamente; pois se houver
desregramento em um só súdito, este desregramento estará então em todo o
Estado. Ora, educar os súditos em consonância com o Estado não é adular os
grandes ou o povo, nem empenhar-se em comprazê-los, mas acostumar os
cidadãos a manter sua oligarquia ou sua democracia.
Nossas atuais oligarquias educam os filhos dos magistrados no luxo e nos
prazeres, enquanto que os dos pobres se exercitam e se enrijecem no trabalho.
Ora, é precisamente isto que dá a estes últimos mais vontade e mais facilidade
para tentar e realizar novidades.

SEQUÊNCIA DIDÁTICA - COMO PROCEDER EM CADA ETAPA

Eis as etapas de realização e aplicação da sequência didática a serem observadas para o desenvolvimento de um bom trabalho em sala de aula segundo a teoria de Dolz e Schneuwly:

1 - Compartilhar a proposta de trabalho com os alunos
De que maneira você irá apresentar seu projeto de trabalho aos alunos? Leitura de um texto? Filme? Dramatização? Use a criatividade e cative-os, envolvendo a todos. Não esqueça de relacionar num cartaz e fixá-lo na sala para que todos saibam quais os seguintes passos nas próximas aulas.

domingo, 28 de outubro de 2012


Questões ENEM Linguagem

http://www.slideshare.net/valeriaalvesdearantes/contedo-de-linguagem-cobrado-no-enem

Para o futuro da humanidade

Ernesto Castanha: Notas e moedas e outros objetos antigos

Ernesto Castanha: Vendas ( diversas ) Notas e moedas

A Política - Aristóteles [parte 22 b]

O Desinteresse
Os atuais demagogos, para fazer a corte ao povo, proporcionam-lhe
através dos tribunais muitos confiscos. Aqueles que se preocupam com a
segurança do Estado devem agir de modo inverso e, em vez de se apoderar em
proveito do povo dos bens dos condenados, consagrá-los à religião. A pena
será a mesma e deterá igualmente os crimes, mas o povo terá menos pressa
para condenar, pois não tirará nenhum proveito da sentença. Além disso, os
legisladores devem fazer com que as acusações públicas se tornem muito raras,
estabelecendo penas pesadas contra os que agirem levianamente, pois não são
as pessoas do povo, mas sim as dos meios refinados que assim se costumam
atacar e humilhar.
Deve-se inspirar a todos, e sobretudo aos cidadãos, um afeto pelo
governo tão grande quanto possível, para ao menos se evitar que considerem os
grandes como inimigos.
Como as últimas espécies de democracia contam um povo numeroso e é
quase impossível a toda essa gente assistir às Assembleias sem pagamento,
as pessoas de certa situação correrão grandes riscos se o Estado não tiver
rendas. Só se subsidiará essa despesa esmagando-os com impostos e
mandando confiscar seus bens por tribunais vendidos à iniquidade. Isso já
precipitou a subversão de muitas democracias. Portanto, quando o Estado só
tem poucos recursos, só deve haver Assembleias nacionais muito raramente e
tribunais numerosos só por muito poucos dias.

A Política - Aristóteles [parte 22]

A atenção não deve ser menos vigilante contra as armadilhas que se armam
contra o povo. Este, de ordinário, é enganado pelos ricos em cinco ocasiões,
que são as Assembléias, as magistraturas, os julgamentos, o armamento e os
exercícios.
1°- as Assembléias: permissão a todos para assistir a elas, mas pena
contra os ricos se não assistirem a elas, e somente contra eles, ou então uma
pena maior do que para os outros;
2°- as magistraturas: proibição aos que têm rendas de recusá-las, mas que
os pobres o possam;
3°- os julgamentos: pena para os ricos que se recusarem a ser juízes;
impunidade para os pobres, ou pena maior para os primeiros, menor para os
segundos, como na lei de Carondas. (Em alguns lugares, todos os que estão
inscritos no alistamento civil podem assistir às Assembléias e ser juízes, mas há
pesadas multas contra os que, estando inscritos, não comparecerem ou não
julgarem, a fim de que a pena evite que se inscrevam e, não estando inscritos,
sejam dispensados de comparecer ou de julgar.);
4° as armas: mesma norma sobre as armas e os exercícios; permissão aos
pobres de não terem armas e pena contra os ricos se não se tiverem
preocupado em adquiri-Ias;
5°- os exercícios: nenhuma pena contra os pobres, se não comparecerem, e
pena contra os ricos, se faltarem. Assim, uns participam para evitar a pena,
outros não comparecem, não tendo nada a temer.
Nas democracias, os legisladores usam de sutilezas opostas. Propõem um
salário aos pobres que assistirem às Assembléias ou que tiverem o ofício de
juiz, e não impõem nenhuma pena aos ricos que se abstiverem.
Todas essas astúcias são funestas às Repúblicas.

Do blog Livros e Afins

Ah, se nossos alunos compreendessem isso no tempo certo...

Foto: NAO LEIA!!
As "autoridades" e os governantes agradecem a ignorancia...

Fernando Pessoa


"Escrever é esquecer. A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida. A música embala, as artes visuais animam, as artes vivas (como a dança e a arte de representar) entretêm. A primeira, porém, afasta-se da vida por fazer dela um sono; as segundas, contudo, não se afastam da vida - umas porque usam de fórmulas visíveis e portanto vitais, outras porque vivem da mesma vida humana. Não é o caso da literatura. Essa simula a vida. Um romance é uma história do que nunca foi e um drama é um romance dado sem narrativa. Um poema é a expressão de ideias ou de sentimentos em linguagem que ninguém emprega, pois que ninguém fala em verso."

E é por isso que o nome do blog é Lendo eu Aprendo!

Foto: Precisa de legenda ?

Homenagem

Olhos Insones...

As crianças da Pós-Modernidade

sábado, 27 de outubro de 2012

Misturinha que tira cheiro de tudo [Utilidade]


Parece estranho postar algo diferente do que se busca neste blog, mas achei muito interessante e gostei realmente. Acredito que será bastante útil para outras pessoas também. 

Para facilitar nosso dia a dia... 

  Segue receita da misturinha que tira cheiro de tudo , absolutamente tudo, e limpa tecidos, desamarela, perfuma e pode ser usada em animais e no  ambiente.

A Política - Aristóteles [parte 21 b]

Pouca Duração das Tiranias
Historicamente, a monarquia tirânica é, juntamente com a oligarquia, a forma
de Estado menos duradoura.
A mais longa tirania foi a de Ortógoras e de seus descendentes, em Sícion.
Durou cem anos. A causa desta duração foi que esta dinastia tratou com
moderação os súditos e na maior parte dos casos se conformava com as leis,
esforçando-se por contentar o povo. Some-se a isto que Clístenes não era um
guerreiro desprezível e, ademais, amava a justiça. Dizem que ele chegou a
coroar o juiz que lhe fora adverso na adjudicação dos prêmios dos combates
ginásticos. Segundo alguns, este magistrado é aquele cuja estátua ainda se vê
na grande praça de Sícion. Conta-se, igualmente, que Pisístrato, citado diante
do Areópago, se submeteu à sua jurisdição.

A Política - Aristóteles - [parte 21]

Portanto, a monarquia tem em comum com o poder aristocrático o fato de se
dar pelo mérito pessoal ou pelo dos avôs, pelos beneficios assinalados, pelo
poder ou por todos estes motivos juntos; pois todos os que haviam prestado
grandes serviços ou podiam prestá-los às Cidades e às nações alcançaram
esta honra, alguns, como Codro, impedindo através de suas façanhas guerreiras
que as Cidades caíssem na servidão, outros retirando-as dessa condição, como
Ciro. Houve ainda reis fundadores de um Estado ou conquistadores de um país,
como os reis da Lacedemônia, da Macedônia e dos Molossos.
A meta e o dever de um rei são zelar para que os proprietários não sejam
desapossados por agressores injustos e nem o povo seja ultrajado por pessoas
insolentes. O tirano, pelo contrário, como já ficou dito muitas vezes, não se
preocupa com o interesse público, a não ser quando este está ligado ao seu
próprio interesse. A volúpia e o dinheiro de todos, eis o que busca o tirano;
honra, eis o que é necessário aos reis. Sua guarda é composta de cidadãos; o
tirano convoca estrangeiros para a sua.

Do Livro do Desassossego - Fernando Pessoa [parte 2]


* * * 95.
"Somos quem não somos e a vida é pronta e triste."
"Quantos somos! Quantos nos enganamos! Que mares soam em nós, na noite de sermos, pelas praias que nos sentimos nos alagamentos da emoção! Aquilo que se perdeu, aquilo que se
deveria ter querido, aquilo que se obteve e satisfez por erro, o que amamamos e perdemos e, depois de perder, vimos, amando por tê-lo perdido, que o não havíamos amado; o que
julgávamos que pensávamos quando sentíamos; o que era uma memória e críamos que era uma emoção; e o mar todo, vindo lá, rumoroso e fresco, do grande fundo de toda a noite, a
estuar fino na praia, no decurso nocturno do meu passeio à beira-mar ...
Quem sabe sequer o que pensa ou o que deseja? Quem sabe o que é para si-mesmo?"

Do Livro do Desassossego - Fernando Pessoa


 Bernardo Soares -  (heterônimo de Fernando Pessoa)
Fonte: http://www.cfh.ufsc.br/~magno/

1.
"O coração, se pudesse pensar, pararia."
"Considero a vida uma estalagem onde tenho que me demorar até que chegue a diligência do  abismo. Não sei onde me levará, porque não sei nada. Poderia considerar esta estalagem uma
prisão, porque estou compelido a aguardar nela; poderia considerá-la um lugar de sociáveis, porque aqui me encontro com outros. Não sou, porém, nem impaciente nem comum. Deixo ao
que são os que se fecham no quarto, deitados moles na cama onde esperam sem sono; deixo ao que fazem os que conversam nas salas, de onde as músicas e as vozes chegam cómodas até
mim. Sento-me à porta e embebo meus olhos e ouvidos nas cores e nos sons da paisagem, e canto lento, para mim só, vagos cantos que componho enquanto espero.
Para todos nós descerá a noite e chegará a diligência. Gozo a brisa que me dão e a alma que me deram para gozá-la, e não interrogo mais nem procuro. Se o que deixar escrito no livro dos viajantes puder, relido um dia por outros, entretê-los também na passagem, será bem. Se não o lerem, nem se entretiverem, será bem também."

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

A Política - Aristóteles [parte 20 b ]

Causas das Revoluções na Aristocracia
Não sendo a aristocracia senão uma espécie de oligarquia (pois tanto numa
quanto noutra só poucas pessoas participam dos cargos públicos, e a diferença
está apenas no motivo de sua escolha), os casos de sedição são
aproximadamente os mesmos.
Uma primeira causa de perturbação relativa aos cargos públicos provém,
pois, do próprio pequeno número dos elegíveis. A tranqüilidade fica ameaçada
quando são excluídos muitos homens de almas elevadas que se consideram
de igual valor, como os que na Lacedemônia se chamavam Partenianos4'.
Pessoas de igual nascimento, que, porém, se viram excluídas, conspiraram
contra o Estado e, depois de descobertas, foram expulsas para Tarento, a fim
de ali fundar uma colônia. Da mesma forma, há desordem quando alguns
grandes, não menos recomendáveis pelo mérito do que pelo nascimento, são
indignamente tratados pelos de situação superior, como o foi Lisandro pelos
reis, ou quando um homem de valor é posto de lado, como Cinadon, que, sob
Agesilau, foi autor da conspiração contra os lacedemônios.
Um segundo motivo de perturbação ocorre quando alguns estão na extrema
indigência e outros na opulência, como na Lacedemônia durante a guerra de
Messênia. Conforme Tirteu, em seu poema sobre a legislação, muitas pessoas
que esta guerra empobrecera exigiram então uma nova partilha do território.
Uma terceira razão surge quando um grande se colocou em condições de
crescer ainda mais e de dominar sozinho, como parecem ter pretendido, na
Lacedemônia, Pausanias, general do exército na guerra contra os Persas, e em
Cartago, Hannon.
Mas o que mais arruina a República e a aristocracia é o vício do pacto
fundamental; na República, a má mistura que nela se faz de democracia e de
oligarquia; na aristocracia, a ausência de combinação desses elementos com a
virtude. O germe de sua depravação é, portanto, uma mistura defeituosa para
estes governos, cujas espécies variadas são compostas de diversos elementos.
As aristocracias distinguem-se do Estado nisso que as primeiras pendem
mais para a oligarquia e as segundas, para a democracia. Assim, estas são
mais seguras e mais duradouras do que as outras. Sendo mais numerosos os
personagens a que é confiado o governo, eles são mais fortes e, em razão
mesmo da igualdade, mais fáceis de contentar. Aqueles, pelo contrário, que, por
causa de sua riqueza, gozam de maior consideração, estão mais dispostos a
humilhar os outros e não têm escrúpulos de lhes tirar todos os lucros. 
Em geral, qualquer que seja o lado para o qual se incline a forma do
governo, nele cai e se transforma, pois ambos os lados procuram engrossar
suas fileiras. A República, portanto, transforma-se em democracia e a
aristocracia em oligarquia; ou, pelo contrário, a aristocracia transforma-se em
democracia, pela atração dos pobres (pois a minoria que se crê lesada
esforça-se para colocar o governo do seu lado), e a República em oligarquia,
pela atração dos ricos.
O único Estado estável é aquele que tem por base a igualdade proporcional
com relação ao mérito e a vontade geral de dar a cada qual o que lhe é devido.
Os turianos experimentaram isto. No começo, só elegiam os magistrados de
maior renda; depois, exigiram uma renda menor e tiveram um maior número
deles. Os nobres que, contra a lei, haviam comprado quase todas as terras e,
por esta razão, tinham maior autoridade na forma oligárquica, ergueram-se
contra esta mudança, mas o povo, treinado no manejo das armas e muito
aguerrido, venceu a guarda, e obrigou os compradores de imóveis a entregar o
que tinham em demasia.

Das Revoluções Particulares às Monarquias
Os meios de subversão são quase os mesmos tanto para a monarquia e a
tirania, quanto para as Repúblicas. A monarquia assemelha-se à aristocracia; a
tirania decorre da oligarquia e da democracia extremas, isto é, de dois governos
degenerados. Com efeito, ela retém os abusos e os erros tanto de uma quanto
de outra; por conseguinte, ela é muito funesta para seus súditos.
Estas duas espécies de monarquia diferem por sua origem e por seu fim. A
monarquia foi estabelecida contra a populaça em defesa das pessoas de bem.
Foi dentre elas que se tirou o rei, em razão da excelência de suas virtudes, do
mérito de suas grandes ações ou do brilho de sua raça. O tirano, pelo contrário,
como a história nos ensina, deve sua origem ao ódio contra os nobres. Para pôr
o povo ao abrigo de suas vexações, ele sempre saiu das multidões. De fato,
quase todos os tiranos são demagogos que conseguiram crédito junto ao povo
atacando os nobres.

A Política - Aristóteles [parte 20]

Das Revoluções Próprias às Repúblicas
Causas das Revoluções na Democracia

A principal causa das mudanças é, nos estados democráticos, o atrevimento
dos demagogos. Caluniam os ricos uns após os outros e os obrigam a fazer
coalizões, pois o temor diante do perigo comum tem o efeito de reconciliar os
maiores inimigos. Em seguida, amotinam publicamente o povo contra a
coalizão, como se vê quase em toda parte.
Foi com tais maldades que forçaram em Cós os nobres a conspirar e
destruir a democracia. Em Rodes, distribuíram aos soldados todo o dinheiro
proveniente dos impostos e impediram que os capitães das galeras
recebessem o que lhes era devido, acusando-os de vários delitos. Para evitar,
então, a punição, os acusados foram obrigados a conspirar contra a democracia
e a derrubaram. A democracia de Heracléia também deveu a ruína a seus
demagogos. Depois de terem enfraquecido o Estado com a partida das
colônias, tiveram a temeridade de arruinar e expulsar os nobres. Estes, tendo-se
reunido, recuperaram forças e destruíram o poder do povo. Em Megara, o
mesmo resultado: os demagogos baniram a maioria dos nobres, a fim de obter
dinheiro pelo confisco de seus bens; os banidos viram-se em número bastante
elevado para fazer-lhes guerra; venceram o povo, voltaram à cidade e
estabeleceram a oligarquia. De modo semelhante, Trasímaco arruinou a
democracia de Cumas.

A Política - Aristóteles - [parte 19 b]

Os Pretextos e Ocasiões
As sedições não nascem de pequenas causas, mas às vezes têm pequenos
começos.
Ordinariamente, elas repousam sobre grandes interesses, e os menores
ganham força quando elas se elevam entre os principais do país. Foi assim que,
antigamente, em Siracusa, o Estado foi perturbado por dois jovens magistrados
rivais em amor. Durante a ausência de um, o outro conquistou sua amada. O
despeito, quando ele voltou, sugeriu-lhe atrair e seduzir a mulher de seu rival.
Tendo cada um deles conseguido o apoio de outros magistrados, a discórdia
espalhou-se por toda a cidade.
Portanto, nunca é cedo demais para abafar as brigas dos altos
funcionários e dos grandes. O mal está na origem. Em tudo, o que começou
já está feito pela metade. O menor erro cometido no início repercute em tudo
que se segue.

A Política - Aristóteles [parte 19]

Em todos os lugares, é a desigualdade que ocasiona as sedições, quer
porque não se respeite nenhuma proporção entre desiguais, quer porque se
estabeleçam muitas diferenças entre iguais; pois a própria monarquia é uma
desigualdade chocante quando se estabelece entre iguais e para sempre. Para
aqueles que buscam a igualdade por toda parte, ela é uma fonte eterna de
subversões.
Há dois tipos de igualdade, uma em número, outra ; em mérito: em número,
quando se encontra dos dois lados uma mesma multidão ou grandeza; em
mérito, quando há proporção, quer aritmética, como entre três, dois e um, quer
geométrica, como entre quatro, dois e um. Numa, existe a mesma diferença,
noutra, a mesma proporção, pois dois é metade de quatro, assim como um é
metade de dois.
Concorda-se sobre a justiça simples ou igualdade numérica. Só há
contestação, como já ficou dito, sobre a justiça proporcional, que se deve ao
mérito. Uns, por serem iguais sob certos aspectos, imaginam ser inteiramente
iguais; outros, por serem desiguais em algo, se consideram superiores em tudo
e dignos de todas as preferências. Foi destas duas pretensões opostas que
nasceram principalmente a democracia e a oligarquia. A nobreza e o mérito
encontram-se em poucas pessoas; a maioria não as tem. Não se encontrarão
em parte alguma cem homens nobres e cem pessoas de mérito, mas em toda
parte os pobres pululam.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

A Política - Aristóteles [arte 18 b]

O Regime Moderado
Pelo contrário, a justa moderação é reunir às instituições da oligarquia as da
democracia, propondo um salário a uns e impondo uma pena aos outros.
Mediante isso, o governo, ao invés de estar nas mãos de apenas uma parte,
será comum a todos. De resto, não devem ser admitidos senão os que portam
armas.
O censo não pode determinar-se pura e simplesmente. É preciso, porém,
que o seja com a máxima amplitude possível, para que os participantes sejam
mais numerosos do que os não-participantes. Quanto aos pobres, eles se
consolam por não participarem e ficam descansados se não os ultrajam e lhes
deixam os poucos bens que possuem, o que nem sempre acontece, pois os
indivíduos de condição que pretendem os cargos públicos às vezes não são
nem corteses, nem humanos. Resulta daí que, se houver guerra, os pobres a
evitam, a menos que os sustentem. Mas se os sustentarem, passam a desejá-la.
Em alguns lugares, o governo é formado não apenas por aqueles que
portam armas, mas pelos que as portavam. Os malianos escolhiam seu
Conselho dentre estes, e seus magistrados dentre os guerreiros em atividade. O
primeiro Estado entre os gregos foi organizado com esta espécie de cidadãos,
depois da extinção das monarquias; e em primeiro lugar com cavaleiros, pois a
força e a Superioridade dos exércitos consistiam então na cavalaria. Pois as
outras tropas de nada servem se não tiverem disciplina, e antigamente não
havia nem disciplina, nem experiência na infantaria, de sorte que a cavalaria
sozinha constituía toda a força do Estado.

A Política - Aristóteles - [parte 18]

Importância e excelência da classe média
Em todos os lugares, encontram-se três tipos de homens: alguns muito ricos,
outros muito pobres, e outros ainda que ocupam uma situação média entre
esses dois extremos. É uma verdade reconhecida que a mediania é boa em
tudo. A abastança de riquezas é, portanto, a melhor de todas as situações; é ela
que se presta melhor aos conselhos da razão: nada lhes obedece mais
dificilmente do que a beleza extrema, a força incomparável, a alta nobreza, a
excessiva riqueza e seus contrários, a extrema pobreza, a extrema fraqueza e a
grande infâmia. Desses extremos, alguns conduzem à insolência e à pior
improbidade, outros à patifaria e à baixeza. Ora, essas são as duas fontes dos
insultos e dos males que nos fazem.
Pessoas desse tipo são, aliás, pouco interessadas em empregos e cargos
públicos, quer no serviço, quer no conselho, e, por conseguinte, são inúteis à
pátria.

A Política - Aristóteles [parte 17 b]

As Leis das oligarquias
Podem-se inferir da democracia quais devem ser aproximadamente as leis
das oligarquias. Basta tomar disposições totalmente contrárias às de cada
democracia e teremos a oligarquia correspondente. A primeira é a mais
moderada de todas, vale dizer, a que mais se aproxima do que se chama
propriamente de Estado. As classes de cidadãos devem ser distinguidas
conforme a renda maior ou menor, dando esta última a condição de chegar aos
cargos necessários, e a primeira aos grandes cargos, de sorte que quem quer
que alcance este nível de riqueza possa aspirar a ocupá-los. A divisão pelo
censo deve ser tal que aqueles que têm a renda exigida sejam mais numerosos
e mais fortes dos que os que não são admissíveis. Mas também é preciso ter
sempre a intenção de que aqueles que são associados ao governo venham
somente da parte sadia do povo.
A oligarquia que vem depois dessa primeira deve ordenar-se quase da
mesma forma, a não ser restringindo um pouco mais o número dos elegíveis. 
Aquela que corresponde à última forma de democracia tem muito do
despotismo e da tirania: quanto pior ela for, mais precisa de precauções para se
garantir.