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segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Crônicas diversas


sexta-feira, 12 de março de 2010

Crônica publicada no jornal A Notícia de Joinville. Caderno ANEXO. pag3 em 11 de março de 2010.

O ESPORTE, UM MENINO, UM SONHO


Na tarde do último sábado o programa “caldeirão do Huck” mostrou um pouco da história e do sonho de um menino: surfar no Havaí ao lado de Kelly Slater. O menino Naamã, morador da favela do Morro do Cantagalo no Rio de Janeiro, segue em sua aventura até chegar ao Havaí; o contato com a beleza e o encontro com o astro mundial do surf. Ele se joga no abraço emocionado seguido de conversa e admiração e finalmente os dois no mar. Bonito de se ver. O garoto tem força na expressão, no gesto. Tem um imperativo dentro dele. De volta ao Brasil, Luciano o leva para um passeio de helicóptero pelo Rio. Ele tudo vê lá do alto: a baía da Guanabara, o Pão-de-Açúcar, o morro do Cantagalo onde ele mora, o Cristo. Eu pensava nele vendo sua própria vida de um outro plano. Sobrevoando a própria vida após uma experiência que transformou sua percepção. Seguiram depois para a casa do garoto. Os pais esperavam ansiosos entre paredes sem reboco e a falta de uma geladeira. A família não tinha geladeira. Não tinha sofá. Luciano sentou-se na cama ao lado de Naamã. Os pais, Sr. Estevão e Sra. Janete, sentaram-se também. A mulher desculpou-se pela ausência de móveis, pela pobreza. Sorriu um único dente num largo de se admirar. Luciano, ainda todo metido na emoção, pediu que o menino falasse um pouco da experiência para os pais. E ele falou que não iria mais faltar às aulas. Que iria estudar, aprender inglês, para voltar ao Havaí e conversar com Kelly. O pai espremia o rosto em lágrimas a cada palavra do menino. Repetia: que bom, meu filho! É bom poder ver que o mundo é grande, não é? Fico muito feliz, muito feliz. Atrás deles uma bolsinha preta de crochê com barrado cheio de flores coloridas enfeitava a parede; a camiseta vermelha que a mãe usava, igualmente tinha uma flor nela. Emocionei-me vendo aquilo tudo. Ah! É difícil não ser piegas numa hora como essa! Um germinar de oportunidades. Naamã realizou seu sonho e de quebra várias outras coisas aconteceram e acontecerão. No final da reportagem, os letreiros vão subindo sobre as imagens de Kelly e Naamã surfando juntos. Caetano vai cantando: “O Havaí, seja aqui, o que tu sonhares, todos os lugares”. E é isso Naamã. “Hot stuff”. Mas quero falar do que está por trás de tudo isso: o projeto Favela Surf Clube, que há 14 anos trabalha para que crianças dos morros cariocas possam escolher entre um fuzil AR-15 e uma prancha 6′5′. Além de aulas de surf, os 53 garotos que fazem parte da ONG ainda aprendem uma profissão e produzem pranchas de surf. Mais de 400 garotos já passaram pelo projeto que está aberto para meninos de qualquer morro que queiram surfar e não tenham condições financeiras. Foi daí que surgiu Naamã. Um representante desses mais de 400 garotos. Então eu pensei na nossa cidade, cheia de garotos cheios de sonhos. E pensei no esporte como catapulta para o desenvolvimento deles. Nos projetos sociais que envolvem o esporte e as dificuldades todas que permeiam esse dia a dia. Joinville fez 159 anos. Merece “parabéns” por muitas coisas. Inclusive por seus cidadãos. Sim, uma cidade é seus cidadãos. E aniversários trazem o sentimento de pensar a vida, o futuro. O maior presente que uma cidade pode dar a seus cidadãos é essa perspectiva de crescimento para suas crianças; investimento na educação e no esporte. O sonho de Naamã mora em muitas crianças e adolescentes daqui. Vamos ter olimpíadas no Brasil. Por que não aproveitar esse espírito olímpico, incentivar e dar condições às crianças e adolescentes? Joinville tem uma grande força econômica, desponta em algumas frentes do esporte e certamente há muitas pessoas que conhecem seu potencial e trabalham arduamente na construção de seus cidadãos. É um presente que a cidade não negue incentivos para esse caminho desenvolver-se. É um presente que nossas crianças possam atravessar as fronteiras de suas próprias dificuldades amparadas por projetos como o da Favela Surf Clube e que possam, a partir disso, sonhar suas próprias vidas de um jeito diferente. Olhar a vida de um outro plano e criar imperativos dentro deles. Como aconteceu com Naamã. Parabéns ao programa do Luciano Huck por trazer isso à baila. Parabéns para Joinville e para aqueles cidadãos que acreditam nessa possibilidade e trabalham para que ela vire realidade.
 
Autora: Clotilde Zingali
 
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ARNICA - crônica publicada no caderno ANEXO do jornal A Notícia em 25 de fevereiro de 2010.

Em 12 de fevereiro de 2009, quando publiquei minha terceira crônica neste jornal, o leitor Jones Vieira Borges me escreveu um email pedindo que eu falasse sobre cachorros. Ele, que é um apaixonado pelo que chamou de “amigos de quatro patas”, me deu essa sugestão. Pouco mais de um ano, venho aqui para dizer: Chegou a minha cachorrinha, Jones! Da forma mais inusitada possível. Eu resistia à ideia de comprar um cachorro. Sei lá, mas o que há em mim pedia uma legítima guapeca – um termo lindo, que é o mesmo que vira-lata ou SRD, (sem raça definida) e que aprendi quando cheguei por aqui e tive meu primeiro cachorrinho em São Francisco do Sul. Chamei-o de Lupicínio, e o apelido era Lupi. Um guapeca lindo, marrom com olhos verdes. Foi para a casa de uma amiga em Guaramirim quando mudei pra Joinville. Na kit net que alugamos em Joinville não caberíamos nós três. Mas todas as vezes que vou pra Guará vou lá dar uma palavrinha com ele. E o bichinho me reconhece, senta e me dá a patinha igual a antigamente. Agora me acontece isso: no sábado de carnaval, voltando do baile, paramos para fazer um lanche na madrugada que escorria. Ela de cara se engraçou comigo. E eu com ela. Perguntamos ao dono da lanchonete se era dele. Disse que não, andava perdida por ali. Um amigo que estava com a gente perguntou se poderia levar. O homem disse: leva. Recostada na cadeira, a fantasia de “mexicano” do meu marido virou aconchego pra ela. Colocamos no carro e partimos. 5.50 da manhã do sábado. E desde então somos dela. Já conhece a casa da praia, fez a viagem São Chico-Joinville numa paciência sem igual debaixo de um calor perto do insuportável. Está em nosso apartamento e vai se acomodando aos poucos. Adora um carinho. A gente? A gente adora dar carinho pra ela. Uma vez por dia ela sai pra passear sua vida de cãzinha, como eu gosto de chamar. O nome dela é ARNICA. Uma homenagem às propriedades curativas da planta, ao poder curativo de um cachorrinho na vida de alguém e a uma amiga querida, que também batizou uma de suas lindinhas com esse nome. Hoje, depois de voltar do primeiro dia de aula na faculdade, ao abrir a porta, encontrei-a serelepe: abanando freneticamente o mormaço com seu rabo e fazendo gracejos. Até o ar que eu respiro ficou mais fresco com a alegria dela. E eu fiquei alegre, perdendo minutos nesse contato e me esquecendo do resto. ARNICA. Seus poderes são conhecidos desde a Idade Média - a Arnica montana é originária das regiões montanhosas do norte da Europa e desde tempos remotos é usada na cicatrização de ferimentos graças às suas propriedades regeneradoras de tecidos. Há controvérsias sobre origem do nome "Arnica", embora muitas referências indiquem que possa ser uma deformação da palavra grega 'ptarmica', que significa "que faz espirrar". Não é uma coincidência incrível? Arnica, a cachorrinha de que falo, espirra todos os dias! Já contamos isso ao médico veterinário e não há nada com ela. Acho mesmo que é graça do destino. Assim como a planta, que é um arbusto perene e que produz floradas abundantes de cor amarelo-ouro ou alaranjado. Que nem o sol. Ela, como ele, dá brilho para nossas vidas. Minha cachorrinha. Meu sol. A planta, por ser originária dos solos ácidos das montanhas européias, é de adaptação difícil no Brasil. Mas minha NICA segue se adaptando a nós e nós a ela. E vamos juntos florescendo.

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